Os meus pensamentos me levaram nesta viagem sem destino...
Caminhos erguidos por eucaliptos envolvidos por brumas, anunciando o crepuscular vespertino num extremo peninsular do ocidente.
Encontrei um jardim onde três ninfas, guardiãs das fronteiras entre o dia e a noite, brincavam de pintar o céu com a luz avermelhada da tarde, colorindo a Deusa do seu Esplendor num horizonte perdido.
Adiante, vi uma construção antiga, abandonada pelo tempo, com várias janelas e grades enferrujadas com limbos tomando conta da pintura umedecida pela garoa fina, que começava a cair nessa tarde de outono, preguiçosamente fria pelo vento, que ía varrendo as folhas caídas nos gramados, formando redemoinhos vivos. De repente, uma luz surgiu de uma lamparina, iluminando o rosto de um homem solitário, olhando atentamente nos meus olhos através de uma das janelas da frente da construção antiga. Seu vulto era de um homem alto, de porte largo e cabeça raspada.
Antes de subir as escadas da porta de entrada, olhei para meu lado direito e vi um largo gramado verde, onde um cavalo branco selvagem corria livremente por todos os lados. Voltei meus olhos para o rosto do homem e vi lágrimas correndo em sua face. Senti um calafrio. Apontei meu dedo indicador para a porta e ele sumiu da janela.
Em segundos, a porta se abriu e o homem segurando a lamparina numa das mãos, tremia, demonstrando uma misteriosa emoção. No bolso da sua camisa havia uma foto, puxei para ver e era de uma mulher grávida. Ele não esboçava nenhuma palavra, apenas olhava cada gesto meu. Com o vento, uma porta dos fundos começou bater, então ele se apressou em fechá-la, percorrendo um corredor enorme com o piso de tijolos e com portas dos dois lados. Segui seus passos até o fim do corredor, quando a porta se abriu com o vento, vi um quintal repleto de lápides, túmulos antigos, onde várias pessoas foram enterradas ali. O homem olhou nos meus olhos com receio e segurou meu braço, impedindo que eu fosse até lá. Neste momento, três Deusas guardiãs do éden e do mundo subterrâneo surgiram de um pomar de árvores mágicas de onde nasciam Pomos de Ouro. Elas íam limpando e enfeitando as lápidas com maçãs e flores místicas azuis. Depois correram para um lago, atrás do pomar e mergulharam nuas, desaparecendo nas águas turvas, no meio das brumas silenciosas. Por alguns minutos, prendi minha respiração para tomar coragem...Voltei meus olhos para trás e ofereci a mão para o homem misterioso. Então, seguimos em direção a primeira lápide de mármore. Nesse instante, olhei para minhas vestes e elas se transformaram no meu corpo. Surgiu uma saia longa negra e um corselet vermelho, meus cabelos ficaram mais longos, como se eu estivesse atravessando uma ponte entre o presente e o passado. Diante de nós, uma estátua de anjo Serafim surgiu em frente de uma cruz de madeira e do seu lado repousava o cadáver de uma mulher, coberta por flores de jasmins e borboletas coloridas, envolvida por uma luz de matizes azuis, fosforescendo sua camisola branca.
O homem ajoelhou-se em prantos diante dela e pronunciou algumas palavras:
- Minha Amada Imortal!
Quanta saudade eu sinto em meu coração!
Eu pensei que nunca mais fosse lhe ver!
Diante do silêncio do seu corpo,
Eu sou o Sol sem a luz,
O vento sem as folhas,
A água sem a nascente,
A terra sem a semente,
Um barco perdido em alto mar...”
E...,
Presenciando este encontro solene,
Sentei sobre a lápide de mármore
E chorei...
Pois, para minha surpresa, aquela mulher trazia em seu rosto os traços da minha face.
HELEN DE ROSE
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=205554
Olá...vim,te visitar e oferecer o premio teu toque me cativa e deixar um beijinho-fique bem, fique na paz-san
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