terça-feira, 12 de abril de 2011

Senhora Dona Catacrese

SENHORA DONA CATACRESE
Maria Hilda de J. Alão.



Mamãe eu quero saber:
O alho tem dente, ele morde?
O fogão tem boca, ele come?
A mesa tem perna, ela anda?
Diga-me, também, sem ficar brava,
A xícara tem asa, ela voa?

Filho, isso é coisa de dona Catacrese,
A distinta figura de linguagem
Do nosso rico idioma.
Ela brinca de fazer comparação
De objetos com partes do corpo humano,

Dos bichos e das aves também.
Ela ganhou vida depois do apagamento
Da etimologia da palavra,
Fazendo-a semelhante à metáfora,
Mas desprovida de poética. Coitada!

Veja menino, em hipótese alguma,
Tente dar alfafa aos cavalos do motor
Do carro zero quilômetro
Lá na garagem do seu avô.

Não quero que me pergunte
Se tendo cabeça o prego pensa,
Nem se o coração da floresta
Bate descompassado.

Nariz de avião não sofre de resfriado,
Olho de furacão não precisa óculos,
Louco é quem se atreve
A coçar as costas da cadeira.

Não diga nunca a ninguém
Que o piano abana a cauda
Lá na sala de música
Nem que cabeleireiro
Penteia o cabelo do milho.

Se pensa que pode ganhar
Dos braços da poltrona um abraço,
Pode esquecer seu sapeca,
Nada de televisão!

Você entendeu o que eu disse?
Abra o livro e estude
Porque no peito do pé eu sinto
Um formigamento estranho
Por ficar em pé falando
De tão importante figura.

Veja lá meu garotinho,
Quando nos falta um termo específico
Para designar um conceito
Tomamos outro por empréstimo.

Mamãe, foi tão boa a nossa conversa,
Você sabe de tudo um pouco
Agora, diga-me o que tem pra comer
Porque a barriga da minha perna
Está roncando de fome. Ahahahaha!

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