terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O DIA QUE ME TORNEI INVISÍVEL (Silvia Castillejon Peral) & Debbie Gibson lost in your eyes





Ja não sei que data estamos

Nesta casa não há folhinhas e, em minha
 memória    tudo está rolto.

As coisas antigas foram desaparecendo.
E eu também fui apagando sem que ninguém
 se desse conta. 
Quando a família cresceu,
 me trocaram de quarto.
Depois, me passaram a outro menor ainda
 acompanhada de minhas netas. 
Agora ocupo a edícula, no quintal de trás.
Prometeram-me trocar o vidro quebrado 
da janela, mas se esqueceram.
 E nas noites, por ali sopra um ventinho gelado
 que aumenta minhas dores reumáticas. 
Um dia a tarde me dei conta que
 minha voz desapareceu.
Quando falo, meus filhos e meus netos
 não me respondem.
Conversam sem olhar para mim,
 como se eu não estivesse com eles.
Às vezes, digo algo, acreditando que 
apreciarão meus conselhos.
Mas não me olham, não me respondem.
 Então, me retiro para o meu canto
 antes de terminar a caneca de café. 
O faço para que compreendam que 
estou enojada,
 para que venham procurar-me
 e me peçam perdão… Mas ninguém vem.
No dia seguinte lhes disse:
- Quando eu morrer, então sim
 vão sentir minha falta.
E meu neto perguntou:-
 Estás viva, vovó? (rindo-se)
Estive três dias chorando em meu quarto,
 até que numa certa manhã,
 um dos meninos entrou a jogar 
umas rodas velhas… 
Nem o bom dia me deu.
 Foi então quando me convenci 
de que sou invisível.
Uma vez, os meninos vieram dizer-me 
que no dia seguinte iríamos todos ao campo.
Fiquei muito feliz. 
Fazia tanto tempo que não saía!
 Fui a primeira a levantar. 
Quis arrumar as coisas com calma.
Nós, os velhos tardamos muito, assim,
 me ajeitei a tempo para não atrasá-los. 
Em pouco tempo, todos entravam e 
saíam da casa correndo,
jogando bolsas e brinquedos no carro.
 Eu já estava pronta e muito alegre.
 Parei na porta e fiquei esperando. 
Quando se foram,
 compreendi que eu não estava convidada.
 Talvez porque não cabia no carro.
Senti como meu coração se encolhia,
o queixo me tremia como
 alguém que tinha vontade de chorar.
Eu os entendo. São jovens.
Riem, sonham, se abraçam, se beijam. 
E eu... Antes beijava os meninos,
 me agradava tê-los nos braços,
 como se fossem meus.E, 
até cantava canções de berço
 que havia esquecido.
Mas um dia…
Minha neta acabava de ter um bebê.
 Me disse que não era bom
 que os velhos beijassem aos meninos
 por questões de saúde. 
Desde então, não me aproximei mais deles. 
Tenho tanto medo de contagiá-los!
 Eu os bendigo a todos e os perdôo, porque...
que culpa eles têm, 
de que eu tenha me tornado invisível?













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